Pular para o conteúdo principal

Articulação para PEC que institui 'distritão' enfrenta resistência na Câmara

Sistema fragiliza partidos e dificulta renovação, apontam críticos. Deputado do PL tem coletado assinaturas para apresentar proposta de emenda à Constituição. A articulação para fazer avançar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para mudar as regras atuais do sistema eleitoral e instituir o chamado "distritão" enfrenta resistência na Câmara dos Deputados. O modelo atualmente em vigor é o proporcional, em que as cadeiras de deputados federais são distribuídas proporcionalmente à quantidade de votos recebidas pelo candidato e pela legenda. No “distritão”, seriam eleitos os mais votados no estado. No caso de São Paulo, por exemplo, que é representado na Câmara por 70 deputados, os 70 candidatos que recebessem mais votos na eleição ficariam com as cadeiras. O sistema, porém, é alvo de críticas por parte dos parlamentares porque, entre outros pontos, enfraquece os partidos políticos e dificulta a renovação das casas legislativas. Nos últimos anos, a ideia já foi discutida e rejeitada pelo plenário da Câmara duas vezes, em 2015 e 2017 (veja nos vídeos abaixo); Câmara derruba proposta de "distritão" para eleições de 2018 Câmara rejeita o sistema de ‘distritão’ para escolher deputados e senadores A seis meses do fim do prazo para que uma mudança no sistema eleitoral possa ser aprovadas a tempo de vigorar na próxima eleição, o deputado Giovani Cherini (PL-RS) tem coletado assinaturas para uma PEC que estabelece o sistema majoritário para a escolha de deputados federais. Com essa mudança na Constituição, haveria brecha tanto para se adotar o distrital simples quanto o distritão. A diferença entre os dois é que, no distrital simples, o estado seria dividido em distritos conforme a quantidade de cadeiras na Câmara. São Paulo, por exemplo, seria dividido em 70 distritos e seriam eleitos os mais votados em cada distrito, o que garantiria representação geográfica. No distritão, isso não aconteceria, porque o estado seria considerado um distrito único. Então, numa situação extrema, os eleitos poderiam vir de regiões mais ricas do estado, deixando outras mais pobres sem representantes. Cherini diz já ter conseguido o apoio de cem deputados para a PEC – é preciso ter pelo menos 171 assinaturas para protocolar a proposta. O primeiro passo é na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa se a matéria não fere princípios jurídicos e constitucionais e dá aval para a sua tramitação. O mérito (teor) é discutido em uma comissão especial a ser criada em seguida. Nesse colegiado, a proposta original pode ser modificada e receber emendas. Se aprovada na comissão, vai para o plenário, onde precisa de ao menos 308 votos em dois turnos de votação. Depois, é enviada ao Senado. Críticas O deputado Fábio Trad (PSD-MS) é um dos que opõem ao distritão. Ele argumenta que o modelo favorece quem já ocupa um mandato porque terá mais exposição pública em relação a alguém de fora da política. Trad pondera ainda que o sistema prejudica a renovação política porque beneficia os partidos que já estão no poder em detrimento de siglas menores, com menos recursos e menos visibilidade. “Isso não é bom para a democracia, que precisa de pluralidade para se manter hígida e com vitalidade”, afirma. Além desses pontos, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) ressalta que, pelo distritão, os votos dados aos candidatos que não conseguiram se eleger são “jogados fora” — isso porque não são considerados os votos recebidos por quem não tiver sido eleito. Pelo modelo atual, o proporcional, mesmo os votos destinados para partidos que não elegeram ninguém são considerados no cálculo para a distribuição das vagas. "Sou contra o distritão porque dificulta a renovação das casas legislativas, despreza um percentual enorme dos votos dados em candidatos, tornando o Poder Legislativo menos representativo. Dificulta a representação de minorias e enfraquece os partidos", afirma Molon. Outro crítico do modelo é o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). Segundo ele, o distritão “desorganiza os partidos”. “Ele acaba com a fidelidade partidária porque o candidato eleito vai dizer que conseguiu se eleger pelos próprios méritos. E aí não vai se sentir obrigado a manter coerência partidária. Leva a uma desorganização total do sistema partidário. Se hoje temos quase 30 líderes na Câmara, vamos passar a ter 513, que é o número de deputados. Cada um querendo fazer do seu jeito”, diz. Ainda de acordo com Zarattini, na eleição, ao votar em um candidato, o eleitor sabe a linha política a que ele pertence conforme o partido. “Se cada um fizer a sua campanha individualmente, não vai ter coerência nenhuma”, diz. Para o cientista político Jairo Nicolau, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, o distritão trata-se de um “sistema arcaico” e que “não tem virtudes”. “É uma proposta cujo único propósito me parece beneficiar apenas os seus próprios defensores”, afirma. Segundo Nicolau, o distritão não é usado em quase nenhum lugar do mundo. Ele cita o Afeganistão e Tuvalu, na Oceania. Argumentos do autor Cherini reconhece que o distritão irá favorecer o político que já tem mandato por ter mais visibilidade que outro candidato de fora. “Seria muito mais voltado para aqueles que estão na política. Não vai ter mais oportunismo político”, disse. Sobre o papel dos partidos, ele alega que as legendas já estão fragilizadas hoje e defende que depois seja aprovada uma emenda constitucional que obrigue o deputado a permanecer quatro anos no partido pelo qual foi eleito.

Fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/03/31/articulacao-para-pec-que-institui-distritao-enfrenta-resistencia-na-camara.ghtml

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escultura de dinossauro que viveu há milhões de anos na região é instalada em praça de Uberaba

Réplicas de uma Maniraptora protegendo seus filhotes foi criada pelo paleoartista Rodolfo Nogueira. Escultura Maniraptora Uberaba TV Integração/Reprodução A escultura em tamanho real de uma Maniraptora protegendo seu ninho foi instalada nesta terça-feira (22) na praça Manoel Terra, em frente a Igreja Santa Rita, em Uberaba. A espécie de dinossauro carnívoro viveu há 65 milhões de anos na região. Esculturas de filhotes de dinossauros serão instaladas na região central de Uberaba De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, a réplica batizada de "Alice" corresponde a outra escultura de um macho, que se encontra no museu dos dinossauros, em Peirópolis. Em 2004, uma garra da mão do animal foi escavada e estudos posteriores revelaram que se tratava de um dinossauro de cerca de dois metros de comprimento, com plumas e pertencente ao grupo de dinossauros que deram origem às aves, parente dos velociraptores. As representações, que fazem part

'Berçário' das baleias jubartes, Bahia concentra maior parte da espécie durante temporada de reprodução; VÍDEO

Baleias começaram a ser vistas em junho e devem ficar no Brasil até outubro ou novembro. Arquipélago de Abrolhos, no sul baiano, é local preferido delas. Salto de baleia jubarte em Salvador em julho deste ano Enrico Marcovaldi/ Projeto baleia Jubarte Entre os meses de julho e novembro, as águas calmas e quentes do litoral baiano são cenário das acrobacias e cantos das baleias jubartes. Todo ano, as ilustres visitantes viajam por cerca 2 meses, da Antártida até o Brasil, para acasalar, reproduzir, e dar um show para quem tem o privilégio de vê-las. Baleias jubarte começam a chegar ao litoral da Bahia "São cantoras de ópera e dançarinas acrobáticas. Dentre as espécies, são as mais exibidas. Geralmente, os machos cantam para seduzir e copular, mas é também uma forma de comunicação", explica Enrico Marcovaldi, um dos coordenadores do Projeto Baleia Jubarte, que monitora a espécie há 32 anos. Baleia jubarte exibe a cauda em Praia do Forte, na Bahia. Registro foi feito neste mês d

Região de Piracicaba tem ao menos cinco cidades com ocupação total em UTIs para casos de Covid-19

Lotação ocorre em Capivari, Cosmópolis, Rio das Pedras, Santa Bárbara d'Oeste e São Pedro, segundo levantamento do governo estadual e do G1. No caso de Santa Bárbara, também não há vagas sem respirador, destinadas a casos menos graves. Movimento de profissionais de saúde na UPA do Piracicamirim, em Piracicaba Vanderlei Duarte/ EPTV A região de Piracicaba (SP) tem ao menos cinco cidades com 100% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinados a casos de Covid-19 ocupados nesta terça-feira (16), segundo levantamentos do governo estadual e do G1. Rio das Pedras (SP) e São Pedro (SP) estão em uma lista de 67 cidades do estado sem vagas nas alas intensivas divulgada pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Na região de Campinas (SP), sete municípios tem UTIs lotadas. Conforme o levantamento feito pelo G1 nesta terça com base nas informações divulgadas por prefeituras da região, Capivari (SP), Cosmópolis (SP) e Santa Bárbara d'Oeste (SP) também estão com ocupação